Pingente Margaret – Silver

A Coleção 8 é a representação da mudança causada pela maternidade.
Para falar sobre ela preciso trazer a narrativa para a primeira pessoa do singular. Afinal, é uma coleção pessoal e que retrata essa experiência individual. Mas ao mesmo tempo coletiva e espero que se identifiquem. 

Sempre quis falar sobre o feminino sobre o espectro da maternidade. Para mim é magnífica a ideia de ser algo exclusivo ao sexo feminino em nossa espécie. E como a natureza não deixa vãos, a justificativa deve estar na própria natureza da essência feminina: a força sutil que temos. 

Até este momento eu não tinha autoridade para retratar o assunto. E, devo confessar, que nunca soube se gostaria de passar por essa experiência, Afinal, apesar do desconto hiperbólico, sabemos que é difícil e que deixamos muito de nossa individualidade para trás. Projetos, sonhos, viagens e o profissional ganham uma grande pausa. Pausa esta que nem a mulher mais focada é capaz de driblar. E tudo bem. Afinal, gestar, parir e cuidar de um ser humano não é pouco. É uma grande responsabilidade pessoal e social. 

Por isso, a Coleção não é sobre retratar a maternidade sob um aspecto idealizado e colocando a mulher-mãe como um ser superior à mulher que escolhe não o sê-lo. É justamente o contrário. É retratar a maternidade na sua forma crua. Não como uma utopia, mas como uma experiência de vida. 

A Coleção é sobre a força do feminino. Afinal, passar pela gestação, parto e amamentação concretizou a ideia que tinha dessa força. Nosso útero se equipara a um templo, o qual, com muitas penitências, realiza o acontecimento da vida. E nós, como vemos gestações e nascimentos com muita naturalidade, não apreciamos a beleza e esquecemos as deusas que somos por carregarmos essa capacidade. 

Por outro lado, a Coleção traz o outro lado da maternidade: a dor, a culpa e a invalidação social. Ela traz consigo um novo leque de inseguranças e medos, com os quais em um curtíssimo espaço de tempo precisamos criar novas ferramentas sociais. Portanto, traz a beleza da dor da mudança.

Pois mudamos e muito com a maternidade. Deixamos morrer parcela da antiga mulher, mais livre e inconsequente. Para dar espaço para a mulher que quer ser a melhor versão de si por outro.  

As peças da Coleção também caminham por estes diferentes momentos e cada uma delas representa uma etapa desse processo. .

Encerrada a minha divagação sobre a maternidade, vamos para a estética da coleção. 

Quando encerrei a Coleção percebi que esteticamente as peças não convergiam.   Uma amiga também chamou a atenção para as similaridades com elementos do mar. No primeiro momento não entendi ao certo o que isso queria dizer. Após refletir comigo – como se colocasse o subconsciente no divã de um psicanalista – cheguei a conclusão que faz total sentido a falta de sentido, pois o momento em si é confuso. Melhor explicando, a transformação é tão abrupta e recente que o indivíduo que começou o processo criativo na recém descoberta gestação é muito diferente da puérpera com um recém-nascido. Essas pessoas que foram nascendo e morrendo no processo deixaram a marca no design. 

Quanto aos elementos do mar. O subconsciente para mim exerce um poder incrível na criatividade e acredito que esses elementos foram trazidos por ele. Durante a gestação, antes da criança atingir uma forma mais humanoide, a chamávamos de camarão e crustáceo. Uma brincadeira interna e uma bela surpresa do criativo. 

Gostei muito do resultado da Coleção e da sua beleza caótica. Espero que também gostem do resultado.

Por fim, agradeço a todos/as/es que acompanham a POES que têm paciência com o período de introspecção que o momento refletiu na marca. Obrigada por acompanharem e apreciarem o trabalho.